Inaugurando o espaço entrevista, com os artistas da cena no Distrito Federal. A primeira entrevista foi com o artista o Anderson Ribeiro,
“Fokker”, Designer e graffiteiro, do grupo “DF Zulu Breakers”.
1 – Desde quando e
como você começou a grafitar nas ruas?
Comecei a me interessar pelo graffiti em meados de 1995,
1996, em 1998 comecei a experimentar e me arriscar nos primeiros trabalhos, mas
só me considero graffiteiro mesmo a a
partir de 2001 quando comecei pintar nas ruas com uma certa continuidade.
2 - Defina Arte
Urbana.
Arte Urbana, de uma forma abrangente, é o nome que deram às
intervenções visuais nos grandes centros urbanos e aos movimentos de arte que
comumente encontramos neles... é a arte feita no meio urbano ou para o meio urbano, para estar ao alcance e ser vista por toda
população, sem restrições.
3 - O que o grafitti
representa na sua vida?
Representa muita coisa, representa um caminho bom que segui
dentro de uma cultura de positividade, representa dedicação, diversão,
responsabilidade, desapego e amizade.
4 – Você junto com Satão,
Snupi e outros caras representam o DF através da crew DF Zulu, como é fazer
parte desse crescimento? Como é sair por aí fazendo o que gosta com seus amigos?
Cara, não foi de uma hora pra outra que resolveram dizer que
representamos o DF, tivemos que trabalhar e ser notados pra que dissessem
isso. É um orgulho e uma
responsabilidade grande, carregar essa bandeira do DF, o lugar onde crescemos e
vivemos, lugar onde conhecemos muita gente com grande talento, então tudo que
fazemos visa um bem maior, dar espaço pra novos talentos outras gerações, abrir
novas portas pro graffiti daqui, contribuir com a cultura local e dar destaque
ao nome DF Zulu.
Não é bem assim, sair fazendo o que gosta com os amigos. Sem
dúvida que fazer o que gostamos e ainda acompanhado pelos amigos é uma das
melhores coisas da vida. Mas isso tem um
preço a ser pago. Fazer graffiti não é barato e não é tão fácil como pode
parecer e tem suas conseqüências. Muitas vezes você sacrifica o que tem, tempo
com a família, dinheiro, é incompreendido, julgado, vira alvo de preconceito; pra fazer uma obra
na rua, e na maioria das vezes isso só fica na satisfação própria. Não é sempre
que você é elogiado ou que gostam do seu trabalho. Mas tem seu lado bom sim,
intervir, transformar, dar seu toque ou passar sua idéia ao mundo que vive é
muito bom, melhor ainda se estiver fazendo isso com amigos.
5 – Como você hoje em
dia o pensamento das autoridades em relação à arte urbana?
Já foi muito pior. Acho que não só o graffiti, mas a arte
urbana em um contexto geral tem conquistado espaço nos últimos anos. Galerias
já recebem e expõe obras de artistas do graffiti e elevam o nome desses caras.
Acho isso muito justo. Vejo que as
autoridades começam a enxergar essa arte com outros olhos, ficaram um pouco
mais tolerantes e descobriram oportunidades pra usar isso ao seu próprio
favor... O lado ruim é a banalização da “street art” que aparece e é explorada
em todas as mídias hoje em dia.
6 – Como você define
o seu estilo de graffiti?
Acho que é um pouco complicado de definir. Eu tento ser
versátil, faço vários estilos, letras, personagens. Já fiz coisas cômicas, fiz
coisas realistas... Faço o que gosto, as vezes tento me arriscar em um estilo
que não domino, ou fazer como se fosse uma ilustração no papel. Uma marca
registrada são os traços e recortes quase vetoriais. Melhor dar uma olhada na
minha galeria...
7 – Você possui
alguma conexão com a arte urbana de outros estados do Brasil?
Pessoalmente acho que todo artista do graffiti hoje tem.
Você se torna uma figura pública, algumas pessoas se identificam e acompanham
seu trabalho pela internet. Pelas mídias sociais os artistas trocam
experiências, idéias, técnicas, divulgam eventos, divulgam fotos dos
trabalhos... Então, acredito sim que todo mundo que se dispõe a fazer graffiti
na rua acaba conectado direta ou indiretamente, não só no Brasil, mas no mundo.
8 – Quais foram as
suas principais influências e de que modo contribuíram para o desenvolvimento
do seu estilo?
Minhas influências são próximas, comecei a fazer graffiti
porque vi de perto o trabalho e quem fazia. Sowtto, Satão, Supla, Turko, Snupi,
são minhas primeiras influências diretas. Depois artistas mais famosos
como Cantwo, Bates, Mode 2, Binho, Daim e a turma da Fx Crew.
9 –A arte urbana bebe
da fonte de pintores consagrados, como van gogh, monet, dali? Algum deles te
inspirou?
A arte urbana se inspira do gato Félix à Monalisa, tudo é
influência. Muitas vezes usamos detalhes que remetem a um artista ou a uma
obra. Diretamente eu não me lembro de ter me inspirado em obras acadêmicas pra
fazer graffiti. Mas certa vez fiz um graffiti na fachada do Espaço Cultural
Renato Russo, na 508 Sul, que era um Salvador Dalí caricaturado em um corpo
cibernético, ficou digamos, surreal. (Rsrs)
10 – Qual a sua visão
sobre a arte urbana do Brasil em comparação a outros países? O que está
faltando no Brasil?
Acho que está caminhando bem, temos cada vez mais artistas
reconhecidos internacionalmente, portas se abrindo cada vez mais, e muita
qualidade nos trabalhos.
Claro que falta ainda valorização verdadeira e consciência.
Muitas vezes ouvimos as pessoas discursando a favor do
graffiti, sempre tentam valorizar disponibilizando espaços depredados para que
graffiteiros os renovem, deem uma cara nova pra esses lugares, que são
viadutos, becos, construções abandonadas ou lugares depredados. Se as pessoas
realmente gostassem e quisessem valorizar os artistas do graffiti e suas obras
dariam lugares de mais destaque, museus, galerias, espaços mais visíveis e
menos insalubres.
Em Brasília temos que aprender que o graffiti não existe pra
apagar pichação, e que não somos amigos e nem inimigos dos pichadores, são
coisas diferentes, propósitos diferentes. Graffiti tem sua parcela, mas não é
antídoto pra todos os problemas sociais.
O artista tem aprender a dar valor a si mesmo e ao que
produz, tem que se valorizar pra ser respeitado.