terça-feira, 12 de junho de 2012

Entrevista com Gilmar Satão



Com muita honra apresento a vocês uma entrevista com Gilmar Satão, um dos primeiros grafiteiros aqui do Distrito Federal. Satão é uma referência importantissima para que está começando a pintar e a se interessar pela arte de rua de Brasília. É presidente da crew DF Zulu e já fez inúmeros eventos de graffiti por aí...




Arte Rua DF entrevista: Gilmar Satão
1 – Desde quando e como você começou a grafitar nas ruas?
Bom, meu nome é Gilmar Cristiano Eneas, tenho 39 anos. Conhecido na cultura Hip Hop de Brasília e nas ruas como Satão. Durante 10 anos da minha vida fui pichador, nessa época 91 e 92 eu e Supla andávamos pelas ruas pichando. Nessa ocasião o Supla começou a andar com o Sowtto e nisso acabou me apresentando ele.  Foi quando o Sowtto tinha um filme em VHS, chamado Beat Street (A loucura do Ritmo) isso já no finalzinho de 92, quando foi em 93 começamos a sair na rua pintando.  O primeiro graffiti que fizemos foi na casa do Supla. Foi especial para nós. Estávamos eu, Supla, Souto (nessa época era com U e apenas um T) e o Kid ventania. Fiquei impressionado com aquele trabalho. Simples, legível e colorido, como os graffitis do filme que tinha acabado de assistir. Nesse período estava ainda me decidindo sobre o meu futuro. Não sabia se pichava ou aprendia o graffiti. Fiquei dois anos me adaptando e decidindo isso de 1992 a 1994, quando estava completando 10 anos que pichava. Então nesse ano resolvi realmente parar de pichar e  a me dedicar realmente no graffiti. Desde os primeiros dias já praticava umas letrinhas. Engraçado ate hoje tenho o meu primeiro book guardado. Com as letras que o Sowtto e o Kid piravam.
Então começamos a ir realmente para a rua. Primeiro na casa do Supla, depois o muro de uma casa de um amigo que ficava na 18 da Ceilandia Norte. Valeu Erick pelo a oportunidade de começar na sua casa. Depois disso, bola pra frente, escola, rua, escolas, ruas... Formando assim o primeiro grupo de graffiti de Brasília. O antigo OS “3” S, que tinha o significado de Satão, Sowtto e Supla.

2 - Defina Arte Urbana.

Se viermos pelo conceito de arte, chegamos a analisar que arte é qualquer manifestação cultural, comunicativa e expressiva de cada pessoa, no processo cultural da sociedade. Quando se fala de arte urbana, acho que a forma de se expressar na rua, becos e vielas. Não importa a forma de se fazer e sim ir lá e fazer. Seja no aerógrafo (quando fazíamos graffiti antigamente), no spray, rolinho, stencil, stick, lambe-lambe, bomb, picho,pincel e principalmente atitude. Isso pode se dá o conceito de arte urbana.

3 - O que o grafitti representa na sua vida?
 A pessoa que faz graffiti tem vários momentos de analisar o termo em sua vida. São momentos particulares e únicos. É preciso saber se o graffiti está em sua vida como hobby, diversão, profissional ou apenas como moda. Há tempos o graffiti vem me abrindo  portas, isso me faz acreditar que tudo que construí,  se tornando parte da minha vida como “profissão” e como pessoa.

 4 – Você é um dos pioneiros da arte urbana no DF, como você enxerga essa ideia hoje em dia? Como é ver o que começou se espalhar por aí?
É interessante como as pessoas vêem o graffiti hoje. Não apenas os grafiteiros, mas toda a sociedade. É fato que toda cultura no seu começo sofre retaliações, discriminações e etc. O graffiti passou por isso e ainda enfrenta alguns momentos de transição. Mais as coisas vão mudando ao longo da história. Hoje me sinto feliz por fazer parte de uma cultura que ajudei a crescer e a desenvolver. Estou prestes a completar 20 anos de historia no movimento. Durante esses anos vi e ainda vejo gerações de talentos surgindo no graffiti. Aprendi muito com essas pessoas e posso acreditar através desses talentos que Brasília se tornou grandiosa no cenário nacional com o graffiti.

5 – Como é ser presidente de uma das principais Crews do DF?
Acredito que seja a forma de liderança mesmo. A CREW DF ZULU BREAKERS, há anos trabalha com os 4 elementos do Hip Hop. Aprendi que para dar continuidade a um processo, em alguns momentos tem que tomar a frente, é preciso ter a iniciativa para construir um conjunto de idéias. Alem de tudo isso, não poderia deixar de citar pessoas importantes nesse processo. Sowtto, Fokker, Soneka, Snupi, Tempo, Pena, Rdoze, Odrus, Guga Baygon, Kogu, isso na parte de graffiti. Temos também gerações e gerações dos B.boys que hoje representam a crew em diversas competições no Brasil, e em alguns países no mundo. Os B.boys que fazem parte dessa família: Luiz Sapo, Pipoca, Kid Ventania, Robledo, Índio, Borracha e tantos outros que passaram por essa geração e abriram caminhos para novas gerações vitoriosas, como o Galego, Rômulo, Tota, Leozim, Muxibinha, Migalha, Chips, Leandro, Luizim, Feijão (IM MEMORIA), Assis, The Bha, Neguim Ice Blu,Thayson, Tsu, Markim, Yuri, Carlton, Ronan, Perna, e tantos outros. Sem contar com os representantes da musica Grande X, do Cambio Negro e os DJs Tydoz e DJ Leo. Juntos fizemos essa crew ser respeitada nacionalmente, e aos poucos se tornando uma das principais de Brasília.

6– Como você define o seu estilo de graffiti?

Meu estilo é Wildstyle, ou seja, estilo selvagem. É a forma de colocar as letras juntas (entrelaçadas) e colori-las com varias cores.
7 – Você possui alguma conexão com a arte urbana de outros estados do Brasil?

Sim, costumo participar de alguns eventos de graffiti pelo Brasil.

8 – Quais foram as suas principais influências e de que modo contribuíram para o desenvolvimento do seu estilo?

Quando comecei a maior influencia foi mesmo o filme Beat  Street, consegui enxergar um ideal para mim. E também quando o DJ Tydoz comprava algumas revistas de RAP gringas (Rappager), sempre vinha com umas tirinhas de graffiti, aparecendo artistas lendários como: Modetwo, Copetwo, Cantwo, Bione, Cathone, Arab, entre tantos outros grafiteiros da época. Mais a maior influência mesmo veio de um amigo, o Sowtto, que sempre acreditou que era possível fazer uma mudança com cabeça das pessoas, e isso me foi acontecendo comigo desde começo. E hoje tem muita gente que se pode admirar: Minha crew é minha maior influencia, e alguns outros artistas como: Does, Fisek, Binho, Gemeos e etc.
9 – O graffiti ficou tão grande e valorizado que hoje em dia é feito até em decorações do interior de casas, propaganda de lojas, como você vê essa expansão?

A valorização veio através de muito trabalho e reconhecimento da arte urbana (graffiti). É  importante saber que as pessoas estão valorizando um trabalho que começou nas ruas e levando para dentro de suas casa. ISSO É GRAFFITI.
10 – Qual a sua visão sobre a arte urbana do Brasil em comparação a outros países? O que está faltando no Brasil?

Arte de rua é nua e cRUA, no Brasil existe muitas qualidades no contexto de interagir com a rua, muitas artistas brasileiros estão fazendo da rua sua galeria a céu aberto. O Brasil já se tornou um pólo de arte de rua. Alem de tudo alguns artistas têm que expor e correr atrás mais do que o normal. Fora do país, os artistas são dedicados em qualquer manifestação artística e aqui alguns artistas precisam de companhia para realizar alguma coisa.

11- Manda uma idéia para o pessoal que esta lendo esse blog.

A idéia é mudar pensamentos e atitudes com coisas positivas da pessoa. Sempre acreditar naquilo que você faz, se dedicando ao máximo para colher frutos em breve. Conheça a historia do seu povo e aprenda a desenvolver sua própria cultura. O GRAFFITI está nas ruas, para muitos pode ser moda, mas para aqueles que acreditam na cultura da rua, é PHODA.

2 comentários:

  1. Boa noite!! Sou diretora de uma escola pública do Guará que recebe noventa por cento de alunos da Estrutural. Estou querendo pintar os banheiros da escola e dps grafitar.Os alunos adoram grafite e não picham onde eles estão. Eu gostaria muito de dar mais dignidade a esses meninos que já passam por tantas privações onde moram.Penso que eles vão se reconhecer numa arte jovem e popular. Estou buscando parceiros voluntários que pudesse realizar esse projeto.Se quiser me ajudar entre em contato com Jane 983 12 32 97.

    ResponderExcluir