Com muita honra apresento a vocês uma entrevista com Gilmar Satão, um dos primeiros grafiteiros aqui do Distrito Federal. Satão é uma referência importantissima para que está começando a pintar e a se interessar pela arte de rua de Brasília. É presidente da crew DF Zulu e já fez inúmeros eventos de graffiti por aí...
Arte Rua DF entrevista: Gilmar
Satão
1
– Desde quando e como você começou a grafitar nas ruas?
Bom, meu nome é Gilmar Cristiano
Eneas, tenho 39 anos. Conhecido na cultura Hip Hop de Brasília e nas ruas como
Satão. Durante 10 anos da minha vida fui pichador, nessa época 91 e 92 eu e
Supla andávamos pelas ruas pichando. Nessa ocasião o Supla começou a andar com
o Sowtto e nisso acabou me apresentando ele.
Foi quando o Sowtto tinha um filme em VHS, chamado Beat Street (A
loucura do Ritmo) isso já no finalzinho de 92, quando foi em 93 começamos a
sair na rua pintando. O primeiro
graffiti que fizemos foi na casa do Supla. Foi especial para nós. Estávamos
eu, Supla, Souto (nessa época era com U e apenas um T) e o Kid ventania. Fiquei
impressionado com aquele trabalho. Simples, legível e colorido, como os
graffitis do filme que tinha acabado de assistir. Nesse período estava ainda me
decidindo sobre o meu futuro. Não sabia se pichava ou aprendia o graffiti.
Fiquei dois anos me adaptando e decidindo isso de 1992 a 1994, quando estava
completando 10 anos que pichava. Então nesse ano resolvi realmente parar de pichar
e a me dedicar realmente no graffiti. Desde os primeiros dias já
praticava umas letrinhas. Engraçado ate hoje tenho o meu primeiro book
guardado. Com as letras que o Sowtto e o Kid piravam.
Então
começamos a ir realmente para a rua. Primeiro na casa do Supla, depois o muro de
uma casa de um amigo que ficava na 18 da Ceilandia Norte. Valeu Erick pelo a
oportunidade de começar na sua casa. Depois disso, bola pra frente, escola,
rua, escolas, ruas... Formando assim o primeiro grupo de graffiti de
Brasília. O antigo OS “3” S, que tinha o significado de Satão, Sowtto e
Supla.2 - Defina Arte Urbana.
Se viermos pelo conceito de arte, chegamos a analisar que arte é qualquer manifestação cultural, comunicativa e expressiva de cada pessoa, no processo cultural da sociedade. Quando se fala de arte urbana, acho que a forma de se expressar na rua, becos e vielas. Não importa a forma de se fazer e sim ir lá e fazer. Seja no aerógrafo (quando fazíamos graffiti antigamente), no spray, rolinho, stencil, stick, lambe-lambe, bomb, picho,pincel e principalmente atitude. Isso pode se dá o conceito de arte urbana.
3 - O que o grafitti representa na
sua vida?
A pessoa que faz graffiti tem vários momentos
de analisar o termo em sua vida. São momentos particulares e únicos. É preciso
saber se o graffiti está em sua vida como hobby, diversão, profissional ou apenas
como moda. Há tempos o graffiti vem me abrindo
portas, isso me faz acreditar que tudo que construí, se tornando parte
da minha vida como “profissão” e como pessoa.
5
– Como é ser presidente de uma das principais Crews do DF?
Acredito
que seja a forma de liderança mesmo. A CREW DF ZULU BREAKERS, há anos trabalha
com os 4 elementos do Hip Hop. Aprendi que para dar continuidade a um processo,
em alguns momentos tem que tomar a frente, é preciso ter a iniciativa para
construir um conjunto de idéias. Alem de tudo isso, não poderia deixar de citar
pessoas importantes nesse processo. Sowtto, Fokker, Soneka, Snupi, Tempo, Pena,
Rdoze, Odrus, Guga Baygon, Kogu, isso na parte de graffiti. Temos também
gerações e gerações dos B.boys que hoje representam a crew em diversas
competições no Brasil, e em alguns países no mundo. Os B.boys que fazem parte dessa
família: Luiz Sapo, Pipoca, Kid Ventania, Robledo, Índio, Borracha e tantos
outros que passaram por essa geração e abriram caminhos para novas gerações
vitoriosas, como o Galego, Rômulo, Tota, Leozim, Muxibinha, Migalha, Chips,
Leandro, Luizim, Feijão (IM MEMORIA), Assis, The Bha, Neguim Ice Blu,Thayson,
Tsu, Markim, Yuri, Carlton, Ronan, Perna, e tantos outros. Sem contar com os
representantes da musica Grande X, do Cambio Negro e os DJs Tydoz e DJ Leo. Juntos
fizemos essa crew ser respeitada nacionalmente, e aos poucos se tornando uma das principais de
Brasília.6– Como você define o seu estilo de graffiti?
Meu estilo é Wildstyle,
ou seja, estilo selvagem. É a forma de colocar as letras juntas (entrelaçadas) e
colori-las com varias cores.
7
– Você possui alguma conexão com a arte urbana de outros estados do Brasil?Sim, costumo participar de alguns eventos de graffiti pelo Brasil.
8 – Quais foram as suas principais influências e de que modo contribuíram para o desenvolvimento do seu estilo?
Quando
comecei a maior influencia foi mesmo o filme Beat Street, consegui enxergar um ideal para mim.
E também quando o DJ Tydoz comprava algumas revistas de RAP gringas (Rappager),
sempre vinha com umas tirinhas de graffiti, aparecendo artistas lendários como: Modetwo,
Copetwo, Cantwo, Bione, Cathone, Arab, entre tantos outros grafiteiros da época.
Mais a maior influência mesmo veio de um amigo, o Sowtto, que sempre acreditou
que era possível fazer uma mudança com cabeça das pessoas, e isso me foi acontecendo comigo desde começo. E
hoje tem muita gente que se pode admirar: Minha crew é minha maior influencia, e alguns outros artistas como:
Does, Fisek, Binho, Gemeos e etc.
9
– O graffiti ficou tão grande e valorizado que hoje em dia é feito até em
decorações do interior de casas, propaganda de lojas, como você vê essa
expansão?
A valorização veio
através de muito trabalho e reconhecimento da arte urbana (graffiti). É importante saber que as pessoas estão
valorizando um trabalho que começou nas ruas e levando para dentro de suas
casa. ISSO É GRAFFITI.
10
– Qual a sua visão sobre a arte urbana do Brasil em comparação a outros países?
O que está faltando no Brasil?
Arte de rua é nua e cRUA,
no Brasil existe muitas qualidades no contexto de interagir com a rua, muitas
artistas brasileiros estão fazendo da rua sua galeria a céu aberto. O Brasil já se
tornou um pólo de arte de rua. Alem de tudo alguns artistas têm que expor e
correr atrás mais do que o normal. Fora do país, os artistas são dedicados em qualquer manifestação artística e aqui alguns artistas precisam de companhia para realizar alguma coisa.
11- Manda uma idéia para o pessoal que esta lendo esse blog.
A idéia é mudar pensamentos e atitudes com coisas positivas da pessoa. Sempre acreditar naquilo
que você faz, se dedicando ao máximo para colher frutos em breve. Conheça a historia
do seu povo e aprenda a desenvolver sua própria cultura. O GRAFFITI está nas
ruas, para muitos pode ser moda, mas para aqueles que acreditam na cultura da rua, é PHODA.